Os EUA mantiveram em Brasília uma estação de
espionagem de dados coletados por satélites de outros países. Funcionou
pelo menos até 2002. Abrigava agentes de duas agências: a CIA (Agência
Central de Inteligência) e a NSA (Agência de Segurança Nacional). Estava
conectada a uma rede de 16 bases de bisbilhotagem de satélites
estrangeiros. O Brasil não dispõem de satélites próprios. Mas aluga
oito.
As revelações constam de notícia veiculada pelo Globo nesta
segunda (8). Produziram-na os repórteres Roberto Kaz e José Casado. A
dupla se baseou em documentos da NSA vazados por Edward Snowden para
Glenn Greenwald, repórter do jornal britânico The Guardian, que
mora no Brasil. Hoje caçado pelo governo americano, Snowden trabalhou
numa empresa privada que presta serviços à NSA. Por isso teve acesso aos
papéis secretos.
A novidade sobre a base americana em Brasília
vem à luz um dia depois de outra reportagem que provocou enorme incômodo
em Dilma Rousseff. Veiculada na edição de domingo do Globo, informara que os EUA monitoraram
milhões de telefonemas e mensagens eletrônicas no Brasil. A presidente
reuniu um grupo de ministros e comandou a reação. O Itamaraty cobrou explicações
da diplomacia americana. Decidiu-se, de resto, acionar a Polícia
Federal e a Anatel para apurar o caso. O governo de Barack Obama
informou que não tratará da encrenca em público. Dará explicações pelas
vias diplomáticas.
A
presença de espiões americanos em Brasília é mencionada num documento
de 2002. Nele, a NSA descreve o modo como operava -ou ainda opera- a
rede montada em conjunto com a CIA. Busca-se sobretudo “converter sinais
de inteligência captados no exterior a partir de estabelecimentos
oficiais dos EUA, como embaixadas e consulados.” Não se sabe se a base
brasiliense continuou operando depois de 2002.
Além de anotar que
“a NSA trabalha junto com a CIA”, o documento diz que o acervo de dados
coletados no estrangeiro é manuseado por agentes “disfarçados de
diplomatas.” Um detalhe que deve potencializar a irritação de Dilma. A
estação de Brasília era a única instalada na América Latina.
As 16
bases de espionagem de informaçõe de satélites compõem uma rede bem
maior. O mesmo documento de 2002 informa que equipes da NSA e da CIA
estavam presentes em 75 cidades, das quais 65 eram capitais de países.
Em Brasília e Nova Déli, na Índia, havia mais do que simples equips.
Nessas localidades, informa o texto, a bisbilhotagem era tocada por
“forças-tarefa”.
Os papéis vazados por Edward Snowden mencionam os
“alvos” da superestrutura espiã. Vão muito além do alegado desejo dos
EUA de se proteger contra novos ataques terroristas. “Sistemas de
comunicação de satélites comerciais estrangeiros são usados no mundo
inteiro por governos estrangeiros, organizações militares, corporações,
bancos e indústrias”, anota o texto de 2002.
Ainda de acordo com a
NSA, o sistema de coleta de informações baseia-se em alianças da
agência americana com com empresas privadas. Diz o texto a certa altura:
“A NSA, em conjunto com seus parceiros estrangeiros, acessa sinais de
comunicação de satélites estrangeiros.” Fica a impressão de que os
“parceiros estrangeiros” colaboram. Considerando-se a reação de Dilma, o
governo brasileiro é o último a saber.
Direto da redação com informações de Josias de Souza
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